Há anos, assistimos ao mundo em busca de alternativas de energias renováveis e formas de diminuir o impacto no meio ambiente, mas muito ainda precisa ser feito para que as metas ideais sejam alcançadas.
Desde a década de 70, com a crise do petróleo, fonte não renovável e esgotável de energia, cresceram as pesquisas no setor de energia renovável, como a eólica e solar. Além disso, acidentes nucleares, como o de Chernobyl, fizeram a Alemanha repensar em outras fontes de eletricidade.
No fim dos anos 80, a energia fotovoltaica foi intensamente estudada por países como Alemanha, EUA e Japão, mas essa forma de produção ainda era consideravelmente cara.
No entanto, como meio de impulsionar as mudanças no sistema de energia, esses países começaram a investir em subsídios governamentais, aumentando a possibilidade de investimento para os meios renováveis e, consequentemente, acelerando o crescimento no setor.
Voltando algumas décadas, na Alemanha, antes da queda do muro de Berlim, o país era dividido em dois lados, ruptura que afetou também a forma de consumo de energia da população.
Se do lado da Alemanha Oriental estavam localizadas as principais usinas de carvão, material fóssil utilizado como uma das principais fontes de eletricidade do país, no lado Ocidental, o país se manteve com energia nuclear.
Décadas após a queda do muro de Berlim e a reunificação do país, a Alemanha busca extinguir, aos poucos, o que antes foram os principais meios de geração de energia no país: carvão e energia atômica.
A partir desse momento, a Alemanha iniciou seu projeto de transição energética, o que foi denominado como “Energiewende”. Essa mudança teve como objetivo reduzir o uso frequente de fontes de energia fósseis, como carvão, petróleo, gás natural e nuclear, além de investir nas fontes renováveis, tais como eólica, hidroelétrica, solar, geotérmica ou biomassa.
Instalações fotovoltaicas: do declínio à ascensão
No fim dos anos 90, o governo alemão lançou o programa fotovoltaico 1000 “Roofs”, que objetivava o financiamento no setor de energia solar. Em um período de quatro anos, entre 1991 e 1995, cerca de 2000 sistemas fotovoltaicos foram instalados em telhados de residências.
Com um tamanho médio de apenas 2,6 kWp e um custo acima de 12 mil euros, as instalações foram subsidiadas em 70% pelo governo alemão e a outra parte coberta pelas empresas responsáveis pelas instalações.
No entanto, com a implementação do incentivo que previa um benefício de apenas 8,6 centavos por kWh, um custo muito inferior ao de produção, que era de 90 centavos por kWh, o número de instalações começou a declinar.
Apesar da queda, o setor segue outro rumo a partir de 1998, quando o país fomenta o apoio às políticas de energias renováveis, visando substituir, até 2050, o fornecimento de energia na Alemanha por energia sustentável; fotovoltaica, eólica, hidroelétrica e biogás. A intenção é que essas fontes sejam responsáveis por até 80% da eletricidade gerada no país.
Em 2000, entra em vigor a Lei de Energias Renováveis (EEG), que determina o fim das fontes nucleares e potencializa o incentivo às energias sustentáveis. A expansão das energias renováveis é um pilar central da transição energética na Alemanha.
Dentro da nova lei, foram criados programas de incentivo às empresas, como a determinação de um valor fixo de aproximadamente 51 cent, por 20 anos, para cada quilowatt-hora solar produzida para a rede pública. Outra alternativa foi a obtenção de crédito através do programa “100.000 telhados”, que fazia parte do crédito para reconstrução.
Após o término dos incentivos da Lei das energias renováveis, descontos também foram destinados para consumidores que adquirissem as placas solares no início de 2004, recebendo do governo uma taxa de amortização de 5% pelos próximos 20 anos, na tarifa de alimentação de energia, o que causou um efeito positivo para o setor fotovoltaico.
Desde que entrou em vigor, a Lei de Energias Renováveis (EEG) tem sido continuamente desenvolvida, passando por alterações em 2004, 2008, 2012, 2014 2017 e, por último, em 2021. Na última reforma, foi definida a expansão do uso de energias renováveis (RE) no setor elétrico: até 2030, serão instalados 71 GW de energia eólica terrestre, 100 GW de energia fotovoltaica e 8,4 GW de usinas de biomassa. Isto significa que 65% do consumo de eletricidade deverá vir de energias renováveis, até 2030.
Hoje em dia, a Alemanha disponibiliza subsídios federais e estaduais para a instalação de sistemas fotovoltaicos em residências privadas e para empresas. Esses incentivos podem variar desde tarifas de alimentação de energia, onde o preço por kWh se mantém o mesmo pelo período de 20 anos, até empréstimos com juros baixos, além de subsídios para as empresas fornecedoras de energia.
Dentre os programas de incentivo, nem todos estão disponíveis para pessoas físicas ou jurídicas, é necessário analisar qual oferta de subsídio se encaixa melhor para determinado projeto.
Com o fechamento gradual das usinas nucleares e a redução do consumo de energia fóssil, as fontes renováveis se tornaram um dos principais meios de produção de energia do país. Segundo o Fraunhofer, maior instituto de pesquisa de energia solar da Europa, a Alemanha tem quase 2 milhões de instalações solares que fornecem cerca de 10% da eletricidade produzida no país.
A partir de 2018, o mercado solar começa a se recuperar do colapso vivido pelo setor nos anos anteriores e, em 2020, aumentou a capacidade dos sistemas fotovoltaicos.
O crescimento do uso dessa energia renovável impediu que quase 30 milhões de toneladas de dióxido de carbono poluíssem o meio ambiente, apenas em 2019, segundo dados divulgados pelo Ministério Federal de Assuntos Econômicos e Energia da Alemanha.
Política verde
Cada vez mais, a população alemã exige políticas públicas que busquem diminuir o impacto que a sociedade vem causando ao meio ambiente. Por isso, as questões climáticas têm se tornado constantemente uma das principais discussões políticas dentro do país.
Não é à toa que o partido “Die Grünen” (Os verdes) tem conseguido alcançar um número considerável de eleitores e apoiadores, com pautas relevantes sobre o clima, competindo inclusive com o CDU (União Democrata Cristã) , partido da ainda atual chanceler federal Angela Merkel.
O partido verde é um grande entusiasta das fontes renováveis de energia, incentivando, inclusive, o uso da energia solar como fonte limpa de eletricidade.
Entre as metas do partido, está a construção de 1,5 milhões de telhados com instalações solares até 2022, desde edifícios públicos a comerciais, além da construção de novas centrais solares próximo a autoestradas, linhas ferroviárias, estacionamentos ou em conjunto com a indústria agrícola.
Com o reerguimento do setor solar, a conscientização em massa sobre as questões climáticas, políticas públicas e investimentos, a Alemanha consegue, ainda que com menos horas de sol do que o Brasil, ser um dos maiores produtores de energia solar per capita.
Com a queda nos custos das instalações, o sistema fotovoltaico se tornou um dos meios atrativos para quem deseja investir em energia renovável e gerar a própria eletricidade, além das questões custo e benefício, dentro de um país onde o gasto com aquecimento, durante os meses frios, é consideravelmente alto.
Segundo a “EMBER”, grupo sem fins lucrativos que fornece dados, análises e soluções políticas para acelerar a transição global de eletricidade, o fornecimento de energia solar na União Europeia, em 2021, atingiu um recorde de 10% do total da energia elétrica produzida nos países do bloco.
Dos 27 países que fazem parte da União, oito bateram o próprio recorde, entre eles a Alemanha. Os dados mostram que o país manteve a maior produção de energia solar da região, atingindo 13,4 TWh, o que representa 17% de toda energia produzida no verão do ano atual.
Fonte: Canal Solar – Daniele Haller – 05/10/2021
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