Ao analisar os preços históricos dos sistemas fotovoltaicos, notamos uma tendência de queda, ligada ao amadurecimento dos profissionais no mercado, à maior concorrência e ao próprio avanço acelerado da tecnologia a nível mundial.
Mesmo com as oscilações do dólar, o mercado fotovoltaico tem caminhado para a redução do valor médio das instalações ao longo dos anos.
Sabendo dessa redução anual de preços, alguns clientes podem oferecer resistência no fechamento de negócios esperançosos de que a redução de preços dos sistemas para os próximos anos compense o “atraso” de não instalar um sistema hoje.
Para poder analisar financeiramente o melhor investimento e comparar o desempenho dos mesmos no tempo, este artigo realizará um estudo com dados históricos de preços médios de sistemas.
CONSIDERAÇÕES
Para essa simulação será considerado um sistema residencial em Campinas, com 4 kWp de potência instalada e capacidade de geração de 6500 kWh anuais.
Vamos usar como referência no estudo a tarifa de energia em 2020 (R$ 0,65 / kWh) e considerar uma inflação anual de 5%.
A degradação da geração do sistema afeta o desempenho econômico do mesmo e, para modelá-la, vamos assumir uma taxa de degradação (redução da potência dos módulos fotovoltaicos) de 0,9% a.a.
Finalmente, será considerada uma taxa de desconto (ou seja, uma taxa de referência de retorno de investimentos financeiros) conforme o histórico da SELIC para o momento e conforme a previsão da SELIC segundo o boletim Focus do Banco Central.
Serão comparadas cinco implementações do mesmo sistema, variando a data de instalação entre elas (de 2016 a 2020), utilizando o preço médio de sistemas divulgados pelas pesquisas trimestrais da Greener e as condições de geração descritas no parágrafo anterior. Os custos de instalação considerados dos sistemas estão descritos na tabela abaixo.
FERRAMENTAS DE ANÁLISE FINANCEIRA
Como estamos lidando com a variável do tempo na análise financeira, precisamos dispor de ferramentas que permitam comparar o valor real do dinheiro ao longo dos anos.
De forma resumida, cem reais economizados em 2016 valem mais do que cem reais em 2020, tanto pelo fator inflação quanto pelo custo de oportunidade de ter o dinheiro parado. O instrumento que usamos para analisar a viabilidade de investimentos nesta condição é o VPL (Valor Presente Líquido).
O VPL utiliza uma taxa de referência (no nosso caso: 5%) para ajustar valores futuros pelo valor equivalente presente daquele lançamento. Ou seja, uma economia de mil reais na conta de energia em 2016 tem valor maior do que uma economia de mil reais em 2017.
Por exemplo, para termos noção da rentabilidade no tempo, o VPL aplicará uma taxa de desconto na economia de mil reais em 2017, ajustando-a para o quanto aquele montante representa em 2016 (para a taxa de referência em 5%, o valor de mil reais de economia em 2017 tem o mesmo valor financeiro que R$ 950,00 tinham em 2016).
Para um investimento ser rentável é necessário que seu VPL seja positivo e, de uma maneira geral, queremos que o VPL seja o mais alto possível.
Figura 1: Utilizando o VPL podemos decidir o que é mais rentável em projetos que nos dão dinheiro ao longo do tempo. No exemplo da figura, utilizaremos o VPL para decidir se a opção 1 ou 2 trará melhor retorno
Pensando justamente no deságio do dinheiro no tempo, podemos montar um estudo de fluxo de caixa nominal e um fluxo de caixa descontado.
O primeiro mostra as entradas e saídas de dinheiro com seu valor nominal. O segundo fluxo (descontado) reflete o deságio do dinheiro no tempo para cada entrada e saída.
Outra figura que podemos utilizar ao comparar sistemas é a TIR (Taxa Interna de Retorno). A TIR é definida como a taxa de desconto que faz o VPL se igualar a zero.
Na prática, isto significa que, caso o cliente investisse o dinheiro do sistema numa aplicação concorrente que rendesse o valor da TIR ou mais, o VPL seria negativo e o investimento no sistema solar não faria sentido. Ou seja, queremos que a TIR seja mais alta que algum investimento concorrente que o cliente opte por fazer.
O tempo de payback também pode ser usado nesta comparação, porém o mesmo não considera o deságio do dinheiro no tempo, e será mostrado nesta análise apenas de forma ilustrativa.
RESULTADOS
Utilizando estimativas de geração de energia com o PVSyst ou Solergo e um software de planilha, como o Excel, é possível calcular o VPL, o TIR e o tempo de payback do sistema fotovoltaico.
Neste estudo, estamos assumindo que um cliente teve a opção de instalar um sistema em 2016, 2017, 2018, 2019 ou 2020.
Ou seja, queremos investigar qual data de instalação do sistema seria a mais rentável. Para um sistema que teve sua instalação postergada para 2017 por exemplo, o ano de 2016 terá um fluxo de caixa nulo.
Fluxo de caixa nominal das economias para os seis primeiros anos da análise.
Fluxo de caixa descontado para os seis primeiros anos da análise.
Na tabela anterior, a taxa de desconto realizada entre os anos de 2016 até 2020 refletiu o valor histórico da SELIC no momento, portanto, variou a cada período.
A partir de 2021, a taxa de desconto considerada foi a prevista pelo boletim Focus do Banco central. A partir de 2024 a taxa considerada foi igual à taxa de 2023.
Com o fluxo de caixa simulado para todos os sistemas entre 2016 e 2045 (e com a informação do valor dos investimentos) foi possível chegar aos valores resumidos da tabela e da figura abaixo.
Figura 3: Com o fluxo de caixa simulado para todos os sistemas entre 2016 e 2045
Temos que ter um cuidado especial ao tirar conclusões destes números. Começando pelo VPL, notamos que o seu valor melhorou entre os anos de 2016 e 2017 – isto se deu pela queda muito acelerada de preços naquela época.
Porém, entre 2017 e 2020 o VPL diminuiu. Ou seja, entre 2016 e 2017, para todas as premissas apresentadas anteriormente, o retorno financeiro de esperar a queda de preços fez sentido.
A partir de 2018, a situação se inverte, não valendo a pena postergar o empreendimento. Notamos aqui que as informações de TIR e de tempo de payback não possibilitam uma conclusão clara sobre o investimento, pois ambas não representam bem a diferença nos resultados de investimentos realizados em tempos diferentes.
O que esperar dos preços futuros?
Para responder de vez a pergunta sobre se vale a pena ou não postergar os investimentos em sistemas de energia solar (aguardando uma possível queda de preços), devemos nos preocupar com a projeção futura de preços dos sistemas fotovoltaicos.
Como o Brasil importa uma quantidade percentual muito grande de módulos e outros componentes, os preços dos sistemas aqui dependem fortemente do valor do dólar, do frete internacional e da situação do mercado global.
O gráfico abaixo foi retirado de um estudo estratégico do IRENA (Agência internacional de energias renováveis). O relatório concluiu que o decréscimo do custo de sistemas no mundo entre 2020 e 2025 deve ser em torno de 4,2% anuais.
Figura 4: Projeção global da queda anual dos custos dos sistemas fotovoltaicos. Fonte: IRENA
Para prever então o impacto de postergar os investimentos de 2020 em diante, assumiremos que no Brasil essa tendência de queda anual de 4,2% nos custos dos sistemas vai se aplicar, conforme mostra a tabela abaixo.
Refazendo-se a análise de VPL com os custos previstos para os sistemas em 2021 e 2022, chegamos aos seguintes resultados.
Os dados da tabela acima nos mostram que para a queda dos preços dos sistemas fotovoltaicos prevista para os próximos anos, não faz sentido financeiro postergar a instalação de um sistema.
CONCLUSÃO
Este artigo mostrou, a partir de uma análise embasada no VPL, e em algumas premissas econômicas, que na situação atual do mercado não vale a pena postergar investimentos em sistemas de energia solar fotovoltaica.
No início da tecnologia fotovoltaica a postergação de investimentos foi uma dúvida que surgiu e ficou incutida nas mentes de clientes e investidores.
De fato, muitos anos atrás, os preços dos sistemas instalados caíam abruptamente de um ano para o outro. Optar pela instalação no ano presente ou esperar o ano seguinte era uma questão que poderia até fazer algum sentido.
Apesar das oscilações do câmbio do dólar no Brasil e das flutuações do mercado internacional, as quedas previstas nos preços dos sistemas fotovoltaicos são pequenas e mostram que o mercado global já se encontra bastante amadurecido, com preços relativamente estabilizados.
Atualmente, esperar quedas de preços para optar pela aquisição futura de um sistema fotovoltaico não é uma boa opção.
Nos estudos apresentados usaram-se taxas de inflação e de remuneração do capital de 5%.
Na prática, sabe-se que a inflação das tarifas de energia elétrica já foi e pode ser maior, enquanto no mercado financeiro existe uma tendência geral na redução das taxas de juros, com muitos investimentos atualmente apresentando juros reais negativos.
Isso torna ainda mais fácil afirmar que a instalação de sistemas fotovoltaicos é vantajosa e não deve ser postergada.
Fonte: Canal Solar – Mateus Vinturini – 21/10/2020
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